Maratonas e Ultras - Superando limites

O objetivo é de contar nossas experiências, divulgar eventos, integrar guerreiros, facilitar a vida e falar sobre a realização pessoal que temos em ultrapassar a linha de chegada e com isto conquistar pessoas que este grupo seja cada vez maior.

domingo, 20 de setembro de 2009

Comrades 2007

Madrugada gélida do dia 17/06/2007 em Pietermaritzburgo África do Sul. Quase 13 mil atletas guerreiros oriundos de várias partes da continente africano e também de várias partes do mundo, a maioria com seus objetivos definidos e alguns que poderíamos chamar de aventureiros com objetivos não tão claros. No meio desta multidão, 51 brasileiros e no meio destes brasileiros, eu com muito orgulho também estava presente, tentando me proteger da melhor maneira do frio de 3 graus e com um objetivo que era dar o melhor de mim e com isto melhorar o tempo do ano passado que era de 08:55:22 horas gastos para percorrer 87’5 quilômetros, sem esquecer de que neste ano o percurso seria um pouco maior totalizando 89’3 Km.

PREPARATIVOS E VIAGEM:
Como dito anteriormente, para chegar a esse momento, foi necessário contratar um técnico com experiência em longa distância, e de posse deste planejamento, foram dedicados vários meses de exaustivos treinos e também de vários questionamentos se valeria a pena todo este sacrifício que seria coroado depois por muita ansiedade, concentração, muitas dores, cansaço ao extremo, que por experiência, já sabemos que hão de vir no dia da prova. A resposta que sempre vinha, é de que somos sonhadores e é inerente do ser humano desafiar novos limites, buscando com isto se superar, e que no final, nos sentiremos vitoriosos, porque imaginamos que quando ultrapassarmos a linha de chegada saberemos que a vitória foi fruto de uma tenaz perseverança em busca dos nossos objetivos, de dedicação para fazer o que gosta, da vontade de melhorar, do respeito aos limites do corpo, da humildade em saber evoluir e da solidariedade da família e dos amigos.
As dificuldades para se fazer a Comrades são grandes. Começa com a própria viagem, a adaptação ao fuso horário (5hs a menos), a alimentação, o local da largada (estávamos em Durban a 90 KM da largada) e o próprio percurso que é muito difícil.
Neste ano, a delegação brasileira na Comrades foi de 51 corredores, dos quais 5 de Brasília. Era a maior delegação estrangeira.
Chegamos em Durban, na África do Sul, na quarta-feira, por volta do meio dia. Todos muito cansados e o nosso objetivo nesse dia foi de descansar. “Tirar o avião do corpo.”
Foi oferecida aos estrangeiros uma oportunidade, uma viagem de ônibus para conhecer o percurso. Este foi de assombrar, porque o ônibus vai bem lentamente, com o guia explicando todos os detalhes e chamando a nossa atenção para os perigos do percurso. Parece que não vai chegar nunca. A decepção é que para uma corrida que deveria prevalecer as descidas, nos pareceu ter mais subidas. Praticamente não se via áreas planas ou se está subindo ou descendo. Isso deixou a maioria dos corredores de primeira viagem, apreensiva, até porque demoramos mais de 2 horas para fazermos o caminho de volta.

LARGADA:

O som da canção CHARIOT’S OF FIRE, tema do filme CARRUAGENS DE FOGO o coração dispara ainda consigo concentrar, chegou à hora da oração, realizada por todos os brasilienses, esquecemos todo desconforto dos últimos dias em silêncio aguardo emocionado o momento triunfal da largada, agradeço e peço a Deus que guie e me acompanhe por esses longos e difíceis 89,300 km.

O cacarejar de um galo, seguido do tiro de canhão dá início a incansável briga em busca superação a qualquer custo, muito decidido e concentrado encaro o percurso convicto de poder superar as adversidades, as subidas e descidas a contagem regressiva da prova me ajuda, concentrado vejo passar os 79, 69, 59.



A METADE DA PROVA:
Chego aos 45 km aqui estou na metade, sinto muito bem fisicamente (porém já emocionado com o público que lota todo o percurso e ao verem nós brasileiros, (eu estava correndo com a bandeira do Brasil), não poupam gritos de incentivo e carinho tento enganar minha cabeça e pensar assim ..”bem agora só falta uma maratona... vamos começá-la ”e assim vou até o km 78.



A AGONIA
Aí começa o meu martírio, a minha lesão patelar deu sinal de vida, aliás, desde os primeiros 20 quilômetros já tinham me avisado, só que agora estava doendo para valer. Tive que parar na enfermaria e além de massagens e gelo saí parecendo uma múmia de tanta bandagem que colocaram no meu joelho e coxa direita. A partir daí além das dores todas as vezes que corria sentia náuseas e voltava com a caminhada. De tanta dor às vezes pensava que a organização tinha esquecido da placa de quilometragem, ledo engano, pois era eu que estava lento demais, estava correndo/caminhando a 08:30 contra os 05:15 anteriores.

A CHEGADA

Lembrei da última preleição de nosso mestre Branca (treinador), que apontava o Km 70 como o mais delicado e a partir daí teríamos que acima de tudo deixar prevalecer a vontade, a garra !!! Em momento algum em minha cabeça pairou qualquer dúvida sobre abandono, lutava agora para conseguir meu objetivo inicial, o de melhorar o tempo do ano passado. Já não pensava na possibilidade de não concluir a prova, ao contrário, conseguia dominar a cabeça e seguir, desisti de tomar água, carboidratos etc, e com muita determinação para chegar segui pela estrada, senti o corpo dar sinal de estabilizar, o estômago manteve-se estável e assim prosseguí os km finais, meus olhos já não conseguiam permanecerem secos, aproximava-se a chegada, falta 1,5km, eu vou conseguir, faltam 16 minutos, tento me concentrar, mas parece que nada mais vai funcionar pela razão só pela emoção o cansaço a musculatura das pernas queima de tanto esforço, à vontade de chegar “eu posso”. Vejo o estádio, ouço os gritos do público já não lembro do cansaço das dores nas pernas do desconforto provocado pela náusea, mas sim de pegar minha bandeira do Brasil e estender por sobre a cabeça e entrar correndo no estádio em busca dos metros finais, meu país que foi tão aplaudido nos últimos 89km, todos gritam é impressionante, as lágrimas agora sim vêem sem que eu tente impedi-las de vir, é impressionante como nesta hora, após 08:45:45 não conseguimos controlar o emocional. Mais uma vez o sonho foi realizado. Sou encaminhado para a enfermaria onde sou devidamente hidratado e muito bem atendido pelos médicos e paramédicos e após, me reúno com os alguns brasileiros que já haviam chegado e comemorávamos quando com tristeza assistimos a tentativa frustrada da chegada de um Africano com 11hs e 50 minutos de prova, o mesmo veio a falecer antes de cruzar a linha de chegada.
Minha classificação entre os 13.000 corredores que largaram foi 1.957, entre os 51 brasileiros fiquei na sétima posição.
























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